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Cresce a procura pela masculinização das mamas no SUS

Class News

Existem três formas de fazer a cirurgia de mastectomia masculinizadora atualmente no Brasil. Pode ser realizada pelo Sistema Único de Saúde, com um médico particular ou conseguir a liberação pelos planos de saúde

O mundo mudou, fato, mas ainda hoje há muita desinformação e preconceito em torno das identidades de gênero. Entender essa realidade faz parte do processo de desconstrução de conceitos que se arrastam desde o início dos tempos. Pesquisa inédita na América Latina aponta que 1,9% da população brasileira é de pessoas transgênero ou não binárias: são 4 milhões de indivíduos segundo o estudo desenvolvido pela Faculdade de Medicina de Botucatu da Universidade Estadual Paulista (Unesp).

Para a maioria das pessoas, quando se fala em gênero, há dois papéis estabelecidos: o homem e a mulher. Sua constituição e comportamento estão primordialmente ligados ao sexo biológico. Um transgênero seria justamente aquele que não se identifica, nem se expressa, segundo o esperado para o seu gênero sexual. Quem é transgênero normalmente tem a sensação de estar no corpo errado, sofrendo um desconforto constante em relação ao próprio sexo. A partir daí, abriu-se a discussão sobre a mastectomia masculinizadora.

A cirurgia é um dos grandes desejos dos homens trans. Por isso, o procedimento vem sendo muito procurado por esse público, que visa adquirir uma aparência compatível com a sua identidade de gênero. Este é o caso do Gael da Silva, homem trans que há uma semana passou pela cirurgia, realizada pela médica cirurgiã plástica Raquel Eckert Montandon. Ele diz que para chegar a esse momento precisou caminhar por uma vida inteira de descoberta sobre si mesmo. “A relação com o meu corpo sempre foi muito conturbada. Começou na minha infância, mas não entendia o que estava acontecendo”, revela Gael.

O cirurgião plástico Fernando de Nápole, médico especialista na área, explica que no procedimento, toda a estrutura é retirada, o que inclui as glândulas mamárias, gordura e excesso de pele. As aréolas são diminuídas e reposicionadas. “Diferentes técnicas podem ser aplicadas para atingir um bom resultado, o que depende do tamanho e do tipo de mama que será operada”, diz. O médico continua, “essa cirurgia costuma durar entre 2 e 4 horas. A anestesia utilizada no procedimento é geral, associada ou não com uma infiltração local”.

Gael realizou a cirurgia há uma semana e diz que isso proporcionou a liberdade de ser quem é. “Estou muito feliz com meu corpo e com o resultado. Recentemente tive o meu retorno e foi muito emocionante ver como está ficando o resultado da cirurgia. Foi uma sensação inexplicável onde me emocionei muito. Esses dias estão sendo os mais felizes para mim, pois adquiri a minha identidade completa”, conta emocionado. Mas o processo até aqui não foi fácil e começou em fevereiro de 2021.

Fernando de Nápole enfatiza que esse processo começa muito antes de estar com o paciente na sala cirúrgica. O Conselho Federal de Medicina e o Ministério da Saúde estabeleceram uma série de requisitos para a realização da redução das mamas com finalidade masculinizadora. O paciente precisa ter 21 anos e passar por um acompanhamento multiprofissional, com psicólogo, psiquiatra, assistente social, endocrinologista e o cirurgião. “Esse acompanhamento é considerado essencial para que o paciente tenha certeza sobre a transformação”, diz o médico.

Para Gael, aos 38 anos, tudo começou com a terapia com uma psicóloga e o acompanhamento com uma médica endocrinologista para o processo de utilização do hormônio, parte fundamental para o processo de transgênero. “A terapia foi fundamental para o processo, pois a cada dia eu tinha mais certeza do que realmente eu sempre fui a minha vida toda. Sem a mesma eu não teria caminhado, pois a caminhada envolve muitas coisas”, conta o paciente. É preciso ter em mente a importância de se cuidar mentalmente e fisicamente.

Existem três formas de fazer a cirurgia hoje no Brasil. A primeira é fazê-la pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Entretanto, há poucos hospitais públicos no Brasil que fazem essa cirurgia, por isso as filas de espera são tão grandes. A segunda forma é fazer o procedimento com um médico particular. Outra alternativa, pouco difundida, é a possibilidade de conseguir a liberação da cirurgia pelos planos de saúde. Sim, os convênios são obrigados a liberar a mastectomia. E o médico Fernando de Nápole realiza a cirurgia em qualquer uma destas possibilidades.

“Tenho a dizer para quem está nessa caminhada que o processo de se sentir completo é lindo, mas é preciso de acompanhamento psicológico para a concretização da transformação transgênera e da cirurgia”. O cirurgião plástico complementa dizendo que é importante destacar que essa cirurgia é irreversível quanto à capacidade de amamentação, então é preciso que se tenha certeza da decisão. Falar do processo é falar de felicidade, de liberdade e dignidade. Que a informação traga consigo respeito, empatia e autoaceitação.

Delson Carlos

Delson Carlos - Formado em Marketing pela UniCambury e pós-graduado em Comunicação Digital. Assessor de imprensa e começou a sua carreira como colunista social nos jornais: A Hora, Jornal da Imprensa, Jornal Diário do Estado de Goiás, e a quase duas décadas está a frente da coluna social “Delson Carlos” do Jornal Diário de Aparecida e editor da Revista Class e do Portal Class News.

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