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Entrevista por Delson Carlos 27/11/2023

Class News

A arte por meio do coração

Através de telhas antigas, pintadas na infância, o artista plástico Homero Maurício descobriu todo seu talento, conhecido e admirado tanto nacionalmente como internacionalmente, sendo um simples coração vermelho o desenrolar de uma linda história.

DC – Nos conte sobre a sua trajetória como artista plástico?

 HM – Nasci em 1988 e faço arte desde criança, a primeira vez que eu me deparei com a arte foi no jardim de infância, quando era apenas um garotinho, de lá para cá arte me conquistou, eu me sentia inspirado a pintar e como as cores davam forma para meus pensamentos e para minha criatividade. Com 9 anos eu comecei a minha carreira como pintor, em um momento onde minha família se juntou para reformar a casa da minha avó na fazenda, no interior de Bela Vista de Goiás, era uma casa antiga com o telhado precisando de reformas, meus tios se juntaram para reformar e dar uma mão de pintura, e na ocasião eu comecei a brincar com as telhas antigas e com um pouco de tinta branca, pintei várias telhas em uma tarde e quando me deparei a minha mão me perguntou porque eu pintava aquelas telhas coloniais antigas de branco. Não sabia ao certo porque fazia, na minha cabeça era legal e estava brincando de tinta, e minha mãe me disse, já que tinha pintado elas de branco, por que não desenhar nelas? Peguei um pedaço de caco e comecei a desenhar, algum tempo depois esse pequeno gatilho me fez pintar belas paisagens, praias, casarios e outras imagens como frutas e animais nas telhas. Um tempo depois estava pintando e fazendo disso meus primeiros trabalhos artísticos e vendendo para tias e amigas da minha mãe. Sempre entendi que o que fazia tinha valor e comecei com apenas 10 anos a vender essas telhas pintadas e fazer minhas primeiras rendas com arte. O tempo passou, me encantei com o graffiti que descobri nas revistas de arte. O graffiti feito nos trens de Nova Iorque me surpreendeu e decidi que gostaria de pintar nas paredes da cidade. Com 12 anos comecei a fazer grafites nas ruas de Goiânia, daí em diante a arte me pegou de jeito, adorava fazer arte nas ruas, e poder levar o que estava na minha cabeça para as paredes. Em 1999 eu estava fazendo artes para empresas, e onde mais quisessem meu trabalho. Não foi fácil, na maioria das vezes tinha que ajuntar dinheiro para comprar materiais e fiz muita arte gratuita onde pedia apenas a liberação do muro para pintar. Anos depois comecei a pintar telas com influência de um professor de pintura de Goiânia chamado Elieser, e foi um marco poder aprender mais técnicas e teorias sobre a arte, foi a partir dele que comecei a desenvolver meu estilo abstrato.

DC – Por que escolheu artes plásticas? Alguém ou alguma coisa te inspirou?

HM – Eu sempre admirei quem tocava ou cantava, tentei por muito tempo aprender música e experimentei aprender violão, piano, bateria, gaita, mas parece que eu nunca conseguia levar jeito para tal coisa, isso só reafirmava que meu caminho seria realmente a pintura, era na pintura que eu conseguia me expressar e dominar meus sentimentos e transferi-los para o papel. A pintura no passado assim como dos dias atuais é minha ferramenta de cura, de liberdade onde eu consigo dar asas a minha criatividade e onde eu sinto um prazer incrível no trabalho.

 DC – O que mais tem realizado e o que mais tem decepcionado você na visão de artes plásticas?

 HM –  Na minha opinião, as artes plásticas são a melhor forma para expressar sentimentos sem precisar falar, de contar histórias sem precisar escrever, e o melhor caminho para defender ideias sem precisar de discutir. O que me realiza demais nas artes plásticas é a possibilidade que ela me oferece de poder me conectar com pessoas diferentes, de acessar ideias e ações de uma maneira singular. O que mais me decepciona é os caminhos que a arte e os artistas atualmente estão se envolvendo, vejo muitos artistas usando a arte para espalhar ideias nocivas para a sociedade e para a juventude.

DC– Escolheria novamente a mesma profissão e a mesma área de atuação? 

HM – Eu passei por vários caminhos durante a minha vida até entender que o único espaço que me restava era o caminho da arte, já tive diversos empreendimentos, já me aventurei em diversos caminhos até entender que era na arte meu propósito de vida e profissional, sem dúvidas eu tenho certeza que a arte é a minha profissão e não me vejo em trilhas que são distantes da arte. Eu amo ser artista, amo ser pintor e amo esculpir, uma das minhas recém-descobertas.

DC – E sobre o projeto “Coração de Rua”, como aconteceu? 

HM – Foi um desenho que surgiu de maneira bem espontânea, não planejei criar a marca, e nem que espalharia por grandes cidades do mundo, simplesmente em uma tarde de janeiro em 2015 fui levar meu carro para a oficina e no caminho de volta, após ajuntar em uma sacola plástica alguns pertences que estavam no porta malas, uma lata de spray, uma mochila e algumas roupas, sai a pé com a sacola na mão e a mochila nas costas, eu já trabalhava com spray, mas raramente com o vermelho, por essa razão estava esquecido no veículo. Sai para almoçar enquanto o carro seria consertado, quando estava andando a pé, carregando alguns pertences na mochila eu acabei tendo a ideia de escrever meu nome em um tapume de obra na Avenida T-7 em Goiânia, mas no momento que iria escrever meu nome um sentimento veio e mudou minha ideia de pichar, acabei desenhando um coração comum, e ao pintar a placa de madeira ela sugava a tinta, então tive de preencher o coração com contornos internos para que a tinta fixasse, daí veio aquela estética de um coração dentro do outro o que mais tarde após repetir inúmeras vezes tomou a forma que tem hoje. O coração de rua é o símbolo oficial do movimento mundial do amor, um movimento de arte com intuito de acelerar a conexão entre nos através da arte. Hoje o coração é uma marca registrada onde produzo itens do vestuário e outros tipos de objetos, a marca está além dos produtos simplesmente, a marca é uma ideia de amor, de espalhar amor por aí e interagir com as pessoas com a sensibilidade para olhar a cidade e a vida cotidiana. Recebo muitos depoimentos de pessoas desconhecidas que me mandam mensagens afirmando que o coração mudou a vida delas, apenas um desenho na parede com a força de provocar o amor, e um sentimento bom de amor, de paixão ou até mesmo de sofrimento e dor do amor. Cada pessoa interpreta de maneira singular e dá o seu próprio significado para o desenho, eu não tenho intenção de afirmar que o coração seja algo específico, eu gosto que o público traga o significado pessoal que a imagem tem para cada um, de um jeito único. 

DC – Durante sua trajetória, você explorou e transitou por numerosos caminhos. Estive em seu ateliê e agora lhe pergunto, o que lhe move a inovar e a buscar novas formas de expressão? 

HM –  Arte para mim é movimento e movimento é vida, sem movimento estacionamos e nos deprimimos e morremos, então estou sempre em busca de dar novos significados aos meus sentimentos e promover mudanças em diferentes esferas que atuo, provocando as pessoas a pensar e questionar a si próprias sobre a vida e o amor, através da arte que produzo. Novas formas de expressão são novas formas de ver o mundo, eu procuro sair um pouco da minha cabeça e observar como as pessoas pensam e interagem com o mundo e isso é fonte de inspiração para poder criar coisas novas e enfrentar novos desafios. Arte é isso, encarar coisas novas com olhares novos. 

DC – Agora fale sobre a sua família. Como concilia trabalho com casa? 

HM – Meu trabalho me dá mais liberdade, porém levo a sério o que faço como artista, tenho o horário certo para me divertir e desfrutar com a minha família, assim como tenho momentos dedicados exclusivamente para realizar meu trabalho profissional. Aprendi a conciliar tudo de maneira leve, muitas vezes o trabalho exige bastante do meu físico e do meu mental, criar é uma tarefa árdua que pede muita energia, mas eu sei dividir e integrar os dois caminhos, existem semanas que me afasto um pouco do trabalho assim como tem semanas que fico completamente imerso para criar. Confesso que depois do nascimento da minha filha Maya eu tenho me dedicado muito mais em casa do que no ateliê, e isso me enche de inspiração para quando voltar me dedicar com ainda mais amor no ofício da pintura e escultura.

DC –Deixe uma mensagem, como um profissional de sucesso para os jovens que estão começando na carreira ou para quem está interessada na carreira.

HM – Nada na vida se constrói do dia para a noite, assim como um prédio precisa de fundação e uma árvore precisa de raízes, ser artistas vai ser necessário também. Vejo os recém-chegados na arte buscarem a todo custo fama e dinheiro sem preparar o solo e se dedicando pouco em aprender e desenvolver suas raízes, e sem raízes uma árvore não para em pé. Uma semente não brota da terra em apenas um dia, é preciso cultivar e regar diariamente essa semente para ela crescer, criar galhos, folhas, flores e aí sim frutificar, e na arte não é diferente, é preciso dedicação, insistência, força de vontade para lidar com a resistência e muito amor pelo que faz, sem isso não se desenvolve um estilo próprio e nem uma arte genuína. 

DC – Deixe uma mensagem de carinho para esse colunista e seus leitores. 

 HM – Eu adorei o convite para compartilhar um pouco da minha história e do meu ponto de vista da vida e da arte, me sinto honrado em poder dividir fragmentos da minha história e das minhas paixões, e sem Deus eu não seria nada, devo tudo ao Criador, por toda capacidade que me deu de abrir os olhos todas as manhãs e admirar toda sua criação. Deus é a minha fonte maior de ação e inspiração, toda essa criatividade e vontade que sinto é fruto da conexão com o Pai que está nos céus, e me sinto privilegiado em poder modificar a vida de algumas pessoas com o trabalho que faço. Ao público eu tenho muita gratidão por admirar, dividir comigo sentimentos e histórias, e a você Delson obrigado de coração pelo carinho e amizade. Só o amor pode salvar esse mundo.

Delson Carlos

Delson Carlos - Formado em Marketing pela UniCambury e pós-graduado em Comunicação Digital. Assessor de imprensa e começou a sua carreira como colunista social nos jornais: A Hora, Jornal da Imprensa, Jornal Diário do Estado de Goiás, e a quase duas décadas está a frente da coluna social “Delson Carlos” do Jornal Diário de Aparecida e editor da Revista Class e do Portal Class News.

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