Luta contra o câncer de boca
Novembro Vermelho é o mês dedicado a campanhas de prevenção e tratamento do câncer de boca. A doença afeta milhares de pessoas em todo o País e poderia ser reduzida com hábitos saudáveis e higiene bucal.
Voltando de um réveillon em Pernambuco, Marcos Kennedy, 62 anos, fotógrafo e servidor aposentado da Assembleia Legislativa goiana, sentiu uma coceira no ouvido, que atribuiu ao som alto que viera escutando nos fones durante o voo.
Incomodado, foi ao otorrino, que desconfiou de um nódulo, solicitou uma biópsia e descobriu que Marcos estava com câncer de orofaringe, um dos tipos de câncer de boca, como especifica a Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica.
O câncer de boca é a preocupação do Novembro Vermelho, campanha de prevenção e alerta da doença, quinto câncer mais comum no País, com mais de 15 mil casos ao ano. Celebrada em alguns outros estados brasileiros, a campanha integrará o calendário goiano, se aprovada no Legislativo e depois sancionada a matéria no 6757/23, de Virmondes Cruvinel (UB), que a institui em âmbito estadual.
Um dos sintomas do câncer de orofaringe é a dor de ouvido. O câncer de boca em geral tem como sintomas lesões no lábio ou na boca que não cicatrizam em até 15 dias; manchas ou placas vermelhas ou esbranquiçadas na boca; sangramentos sem causa conhecida na região da boca; nódulos no pescoço, rouquidão persistente e outros. Nos casos mais avançados, pode haver dificuldades para falar, mastigar ou engolir.
Este fôlder do INCA, o Instituto Nacional do Câncer, traz orientações cruciais sobre o câncer de boca. Estão entre os fatores que aumentam o risco de se ter a doença o tabagismo, as bebidas alcoólicas, o excesso de gordura corporal, o vírus HPV (câncer de orofaringe) e a exposição ao sol sem proteção (câncer nos lábios). Marcos testou negativo para HPV e afirma que seu caso resultou do consumo de uísque e de cigarros – ele começou a fumar aos 14 anos.
Diagnosticado o câncer, que estava em estágio intermediário, Marcos fez quimioterapia e, sobretudo, radioterapia, que somou 35 sessões. Inicialmente, a rádio era feita de segunda a sexta-feira, mas, por debilitá-lo, demandou um ritmo espaçado a partir de certo ponto.
O tratamento foi efetivo, tendo extirpado o câncer, mas ele enfrenta outras dificuldades.
“Tive que arrancar dez dentes, os de trás, antes de começar. A qualidade de vida diminui consideravelmente”, relata. “Eu não como uma carne e não tem como colocar prótese porque a minha mandíbula não segura. Depois de um ano, poderia ser a prótese móvel, eu ia colocar agora, mas preciso primeiro fazer uma operação, tirar um pedaço do osso”.
Essa cirurgia se deve, segundo ele, principalmente à retomada dos hábitos de beber e fumar. “Estou pegando as consequências disso. A radioterapia me deixou com problema na mandíbula, mas, muito mais por falta de cuidado, ela necrosou e eu vou ter que operar agora”.
Marcos também teve perda de peso, caindo de 90 para 74 quilos, com 1,78 metro de altura. Sem poder consumir carne, ele ingere muitos alimentos líquidos e pastosos. “Eu adorava comer uma carne, uma picanha, um cupim, ir numa churrascaria”, relembra. Um alento é conseguir comer alguns pescados.
Questionado o que sabia da doença ao receber o diagnóstico, Marcos diz que não tinha qualquer informação a respeito e que preferiu não pesquisar nada por conta própria. “Prefiro enfrentar na hora, com o médico me explicando, me posicionando, me falando o que é, a sair pesquisando e criar expectativas que podem até ser negativas”.
Ele preferiu não recorrer ao acompanhamento psicológico durante o tratamento, mas pondera que “deveria ter feito”, porque “a cabeça entra em parafuso”. Para enfrentar as dificuldades do pós-operatório da mandíbula, acrescenta, ele deve buscar essa ajuda.
Ainda é difícil para Marcos deixar o tabagismo. “Hoje, por exemplo, estou com uma carteira de cigarro aqui no bolso, depois de 11 dias sem fumar.”
Além de evitar os fatores de risco antes mencionados, pode-se reduzir a chance de se ter câncer de boca mantendo boa higiene bucal. Para evitar o HPV, deve-se usar preservativo e se vacinar contra a doença. O esquema vacinal de HPV do SUS abrange crianças e adolescentes de 9 a 14 anos e alguns outros grupos. Não se enquadrar nesses grupos, porém, não dispensa a necessidade de vacinação, que deve então ser buscada junto à rede privada.
O SUS oferece também tratamento para deixar de fumar como parte do Programa Nacional de Controle do Tabagismo. Mais informações sobre o tratamento do consumo excessivo de álcool podem ser obtidas no serviço Disque Saúde 136.
A detecção precoce do câncer de boca aumenta a chance de cura do tratamento. Informações detalhadas da doença podem ser obtidas nesta página do INCA.