Para especialista, abertura de mercado é a melhor solução para baixar preços
Marcelo Camorim enfatiza que intervenção governamental na estatal não é bem vista pelo mercado de negócios e que o novo presidente continuará lidando com dificuldades em baixar valores no mercado monopolizado
A paralisação de dez dias dos caminhoneiros e a ameaça de greve dos petroleiros, ambos os movimentos contrários à atual política de preços da Petrobras, fez com que o governo federal voltasse a intervir na gestão da empresa. A recente decisão do Presidente Michel Temer (MDB) de rever a sistemática de composição dos preços dos combustíveis foi crucial para o pedido de demissão de Pedro Parente, então presidente da estatal.
Para o diretor da Fox Partners e especialista em gestão e governança empresarial, Marcelo Camorim, uma efetiva e definitiva solução para a questão dos preços dos combustíveis no País é o fim do monopólio e a abertura de concorrência para esse mercado. De acordo com o especialista, isso traria um dinamismo saudável para o mercado e a queda do preço ocorreria naturalmente para a população que poderia escolher entre duas empresas. “A concorrência é extremamente saudável para a economia. A abertura da concorrência, ao meu ver, seria uma decisão melhor que a privatização da Petrobrás. Sem privatizar nada muda. A empresa continuará monopolizando o mercado do mesmo jeito”, finaliza.
A decisão da saída de Pedro Parente anunciada na sexta-feira, 1º de junho, às 15 horas, em pleno funcionamento da Bolsa de Valores, resultou imediatamente em queda de 14% no valor das ações da petrolífera brasileira. Para tentar remediar a situação, o governo nomeou Ivan Monteiro – que fazia parte da equipe de Parente. Na última segunda-feira, 4, o Conselho da Petrobras aprovou o nome indicado, e pelo jeito, o mercado financeiro também aprovou, já que reagiu positivamente e as ações preferenciais da estatal fecharam em alta de quase 8,5%, após a queda expressiva da última sexta.
Para Marcelo Camorim, o trabalho de Ivan Monteiro deverá ser pautado naquilo que o antigo gestor já vinha desenvolvendo, uma vez que ele foi um nome forte na gestão de Parente. Monteiro foi responsável por implementar diretrizes financeiras do atual plano de negócios da companhia, que trouxeram melhorias para indicadores financeiros nos balanços trimestrais da empresa.
De acordo com o especialista, Monteiro sabe que o mercado se assusta com as intervenções governamentais e que isso é ruim para a Petrobras. “Acredito que ele vá tentar manter a postura de profissionalização que Parente vinha tentando impor, que está baseada, principalmente, na distância das intervenções do governo federal”, diz Camorim, que admite, porém, que novo presidente da estatal, muito provavelmente, não terá êxito em coibir a interferência política na empresa.
“O Governo atual demonstrou vulnerabilidade diante dos protestos. Essa crise recente do combustível mostrou isso. Hoje a especulação até quando o novo presidente da Petrobras consegue se manter no cargo. Se houver outra paralisação coma dos caminhoneiros o governo para não cair irá intervir”, destacou Camorim ao falar da difícil missão que Ivan Monteiro tem à frente da Petrobras, para a efetiva recuperação dos prejuízos causados por mais de uma década de má gestão.